Muito antes das guitarras distorcidas tomarem conta do cenário musical brasileiro, uma mulher ousava dar voz ao lado sombrio da música nacional. Seu nome? Nora Ney. Para quem acha que o rock só começou por aqui com a Jovem Guarda ou com os riffs de Raul Seixas, vale a pena revisitar a história dessa pioneira que, sem fazer parte do gênero rock oficialmente, influenciou uma geração inteira com sua estética melancólica, desafiadora e, por que não, roqueira em essência.
A Rainha da Dor de Cotovelo
Nora Ney estreou nos anos 1950 com uma voz carregada de emoção, quase dolorida. Era como se Billie Holiday cantasse boleros e sambas-canções em português, numa fusão que falava direto à alma dos boêmios e dos desajustados da madrugada. Seu timbre grave e sua entrega emocional transformaram canções como “Ninguém me ama” e “Molambo” em verdadeiros hinos da solidão urbana, um sentimento que o rock, anos depois, trataria com guitarras e distorções.
Rebelde com Causa
Em plena ditadura militar, foi Nora Ney quem ousou gravar a versão brasileira de “Rock Around the Clock”, de Bill Haley, considerada a primeira gravação de rock no Brasil. Isso mesmo: antes de Roberto Carlos pensar em pegar a estrada com a “Turma do Iê Iê Iê”, Nora já arriscava trazer o espírito rebelde do rock’n’roll para o território nacional. E isso vindo de uma mulher, em uma época em que poucas tinham voz, muito menos microfone!
Rock é Atitude
Embora seu repertório passe longe do rock clássico, sua postura artística antecipa o espírito do gênero: desafiar padrões, cantar o que incomoda, dar voz aos excluídos. Nora Ney, com sua dramaticidade intensa, sua estética noir e sua escolha por letras que tratam do amor perdido, da decadência e da amargura, foi uma espécie de precursora emocional do rock nacional.
Legado para as novas gerações
Bandas como Legião Urbana, Cazuza, Pitty e até nomes do metal nacional carregam nas letras e na entrega vocal a herança de artistas como Nora Ney. Ela mostrou que a dor pode ser bela, que a tristeza pode ser cantada com classe, e que ser intensa é, sim, uma virtude artística.